Crônica “Bichos” de Maurilo Andreas

O Amor é um passarinho que canta baixinho e lindo, que pousa na mão da gente, mas que no primeiro gesto brusco voa e deixa no lugar o ovo gigante de outro bicho chamado Tristeza. O amor quando chega é de um amarelo bem claro, mas muda sempre de cor.

O Cansaço é um vírus que pesa como um elefante, mas que se move sem som pelo ar e cabe dentro da gente, às vezes nas pernas, às vezes nas costas, às vezes em cada fibra. Se o cansaço tiver uma cor, é cinza escuro.

A Tristeza é um tipo de sanguessuga, que esvazia a gente e engole horizontes. Muda de tamanho e se encolhe e mesmo que pareça ter ido embora, sempre pode voltar de repente. Tem a cor do vazio.

A Palavra é um bichinho que se deve guardar muito bem, porque quando escapa se metamorfoseia e chega diferente no outro. Palavra quando sai e volta, sempre retorna outra. Sua cor são todas.

O Futuro é um bicho que jamais existe e que a agente insiste em tentar enxergar e se convencer de que vai ser diferente. O grande segredo o Futuro é fazer parecer que está lá quando na verdade ele já passou. A cor do Futuro é aquela que a gente nunca vai encontra

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