Dois anos após morte de policial, viúva ainda aguarda prisão de criminosos

O futebol de várzea não era só um passatempo para o sargento Maurício (nome fictício), do serviço de saúde da Polícia Militar de São Paulo. "Se houvesse convite para jogos, ele era capaz de praticar todos os dias, isso desde criança. Ele não fumava, não bebia, nem era mulherengo, era um homem de família, mas tinha essa paixão pelo futebol", diz Ana, a mulher com quem dividiu a vida por mais de 25 anos.
Porém, seus familiares e amigos não eram os únicos que sabiam desse "ponto fraco" de Maurício. Em junho de 2012, criminosos supostamente ligados à facção PCC (Primeiro Comando da Capital) montaram uma emboscada e assassinaram o policial em um campo de várzea na zona norte de São Paulo. Segundo as investigações da polícia, o assassinato teria sido um presente de aniversário para um chefe local da facção.
Embora o crime que resultou na morte de seu marido tenha ocorrido há pouco mais de dois anos, sua viúva Ana ainda luta para ver seus responsáveis presos, enquanto aguarda o pagamento de uma indenização por parte do Estado.

Riscos

A história do sargento Maurício ilustra uma das faces da guerra cotidiana que toma a maior parte das cidades brasileiras.
Enquanto ao menos 1.259 pessoas foram mortas em 2013 em homicídios cometidos por policiais, um levantamento feito pela BBC Brasil em 22 Estados aponta que, no mesmo período, 316 policiais foram assassinados, a maior parte deles em períodos de folga ou enquanto trabalhavam em serviços privados irregulares, os chamados bicos.
Embora soubesse dos riscos que corria, o policial Maurício tentava acalmar sua família dizendo que era inútil se preocupar.
"Ele dizia que não devíamos nos preocupar, deixar de fazer coisas ou sair na rua, porque se fosse acontecer alguma coisa, os criminosos viriam até em casa, porque têm o endereço de todo mundo", lembra Ana.
"Ele sempre fazia o mesmo caminho para sair do campo e ir até a casa da mãe dele. Quando o jogo terminou (dois criminosos) o seguiram. Ele estava dentro do carro, um veio do lado dele e chamou seu nome. O que estava do outro lado atirou nele", afirmou a viúva.
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