Esta é uma versão Dublada realizada por Rodrigo Nishino.
“estamos hoje frente a uma classe totalmente escrava, que no entanto não se dá conta disso ou melhor ainda, que não quer enxergar […] a renúncia e a resignação são a fonte de sua desgraça”
E finalmente chegamos. Chegamos ao tão esperado tempo da tecnologia, anunciado com ansiedade desde os primórdios da mídia. Afinal, quem não se lembra dos simpáticos membros da família Jetson? Quem não se lembra de todas as benesses, dos carros que voam e dos fornos que cozinhavam imediatamente? Enfim chegamos, agora é uma questão de sentar, relaxar e esperar que o trabalho nos seja feito, não? Talvez não seja bem assim.
Com minha declarada orientação freudo-marxista não posso deixar de dizer que caímos em nossa própria armadilha, e estruturalmente é fácil de se entender tal fenômeno: O valor de uso foi exuberantemente ultrapassado pelo fetichismo das mercadorias. Os reflexos de tal fenômeno são tão nítidos quanto os projetados pelos espelhos instalados nos banheiros do shopping Iguatemi. A mercadoria não está aí a nosso serviço, e nem tem a menor pretensão de voltar ao status de ferramenta do humano.
Geramos através de nossa ideologia racional e tecnológica uma nova, mas não inédita era, a era da servidão moderna ( e não pós moderna ). Nos tornamos servos de nossos aparelhos, trabalhamos em dobro visando adquirir aparelhos que propositalmente não são capazes de suprir a demanda que eles mesmos nos criaram. O micro ondas, por exemplo, nos possibilita esquentar mais rápido o alimento, de forma que possamos trabalhar em dois empregos e ter mais renda, para que possamos comprar novos modelos de micro ondas.
“O sistema dominante fez do trabalho seu principal valor, e os escravos devem trabalhar mais e mais para pagar à crédito sua vida miserável. Eles estão esgotados de tanto trabalhar… passam toda sua vida realizando uma atividade extenuante e insidiosa que é proveitos apenas para alguns”
Em relação a esta nova forma de servidão, não há nada de tão novo, ou de tão fluído ou de tão pós ( moderno). A análise é praticável se valendo de textos como O capital de Marx (1867) que há mais de cem anos nos alerta dos perigos das novas formas de classificação da mercadoria. Porém por mais realista e contemporânea que a teoria marxista seja, não se tinham subsídios suficientes para notar que a mercadoria humana seria submissa aos demais tipos. Talvez a auto exclusão não seja a melhor opção de oposição a este novo tipo de servidão, mas uma simples postura reflexiva considerando a soberania do ser humano em relação às demais mercadorias, uma vez que nossa posição de mercadoria já está bem consolidada. Não podemos permitir que as demandas de nossa vida sejam controladas pelo mercado, devemos sim exigir esclarecidamente que o mercado passe a ocupar o seu lugar, como servo manso e subserviente em relação às nossas necessidades, que sinceramente nem são tantas assim.
“é o medo que nos fez escravos e que nos mantêm nesta condição. Baixamos a cabeça frente aos donos do mundo, aceitamos esta vida de humilhação e de miséria somente por medo”
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