Policiais de NY dão as costas a prefeito em funeral de colega

Comoção e tensão política se misturaram durante o funeral de Wenjian Liu, 32, um dos dois policiais mortos em 20 de dezembro em meio a tensões raciais em Nova York. 

Milhares de policiais da cidade e oficiais vindos de outros Estados e do Canadá ocuparam as ruas do Brooklyn, onde aconteceu a cerimônia, para homenagear Liu. 

Parte da comunidade asiática-americana (Liu era chinês) também se reuniu nos arredores da casa funerária Aievoli para acompanhar a cerimônia. Muitos se emocionaram ao assistir, em telões, ao pronunciamento do pai de Liu e ao ver a passagem do corpo. 

"Não há como expressar em palavras minha tristeza", disse o pai de Liu, Wei Tang, emocionado. "Ele me ligava todos os dias antes de terminar o trabalho, para me assegurar de que estava seguro e dizer: 'Pai, estou indo para casa hoje, você pode deixar de se preocupar agora.'" 

Mas a tristeza e o silêncio não impediram um protesto mudo dos policiais contra o prefeito de Nova York, Bill de Blasio. Enquanto a imagem de Blasio aparecia nos telões, centenas de oficiais, da cidade e de outros Estados, viraram as costas. 

Policiais ficam de costas em sinal de protesto contra o prefeito de Nova York, Bill de Blasio
Policiais ficam de costas em sinal de protesto contra o prefeito de Nova York, Bill de Blasio
O mesmo protesto já havia sido feito no funeral de Rafael Ramos, morto ao lado de Liu, no final de semana anterior. Policiais que conversaram com a Folha sob condição de anonimato afirmam que não se sentem apoiados pela administração de Blasio. 

"Nós temos de tomar decisões em questões de segundos. E mesmo fazendo a coisa certa, não dá para saber se, no fim do dia, você vai ser tratado como herói ou um zero à esquerda", afirmou um deles. 
"Eles [os policiais de Nova York] estão em um ponto em que todos questionam muito o que fazem", disse um oficial da Flórida, que veio à cidade para homenagear Liu. 

As tensões entre a polícia e a prefeitura começaram depois que um júri de Nova York decidiu, em novembro, não indiciar um policial branco pela morte de Eric Garner, um homem negro, durante uma abordagem em julho. 

Na ocasião, Blasio afirmou em discurso que sempre temeu pelas interações de seu filho (que é afrodescendente) com a polícia. As declarações, para oficiais, contribuíram para aumentar a tensão entre os policiais e a população. 

Após o protesto no funeral de Ramos, Blasio se reuniu com os sindicatos policiais para tentar aliviar a hostilidade. O comissário da Polícia de Nova York, William Bratton, também enviou um comunicado para os oficiais, na sexta, pedindo que os protestos não se repetissem no domingo. 
No discurso feito durante a cerimônia, Blasio tentou, novamente, reduzir as tensões. "Toda a cidade está de coração partido", disse. "Vamos voltar às tradições de Nova York de compreensão mútua. Vamos seguir em frente fortalecendo os laços que nos unem e vamos trabalhar juntos para alcançar a paz." 

Policiais dizem que, desde a morte de Ramos e Liu, as relações com a população da cidade melhoraram. 

"O apoio da população aos policiais é o maior que eu já vi em oito anos de corporação", disse um deles. "As pessoas nunca diziam 'obrigado', e agora elas nos param nas ruas para nos agradecer." 


FOLHA

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