“No trânsito, a primeira lição é entender que todos os seus elementos relacionamse
e cada qual tem uma enorme capacidade de influenciar a conduta de todos os
outros.” Roberto DaMatta
Por Alex João Costa Gomes *
Os acidentes e mortes no trânsito brasileiro há tempos já são
um problema de saúde pública, o que requer um olhar mais especial
tanto do poder público quanto da sociedade de forma geral, pois
ambos são atingidos sem que possamos mensurar isso,
principalmente por causa da deficiência na produção de números
sobre acidentes com vítimas fatais ou não nas vias do país. Vejam
bem, segundo o Ministério da Saúde desde 1980 já foram
contabilizados 1,064 milhões de mortes em nosso trânsito, esse
número é bem maior que o número de habitantes de algumas das
grandes cidades do país, sendo que não devemos de maneira alguma
tomar isso apenas como simples números, pois não são, há sonhos
destruídos bem como temos diversas famílias envolvidas nessa
trágica questão.
Erra quem não quer se importar com os problemas do trânsito
até que esteja envolvido em um, quer seja através de um simples
acidente ou com a perda de alguém muito querido para a violência
que hoje impera em nossas vias. Não há como escaparmos dessa
questão que envolve o caos vivenciado no trânsito do Brasil, basta
verificarmos se temos algum conhecido, amigo ou familiar que se
envolveu como vítima o causador de um acidente, podemos afirmar
que haverá sim alguém do nosso circulo social que já passou por
algum transtorno oriundo do trânsito brasileiro. Ocorre que não
devemos aguardar que esse problema chegue até nós, podemos ir ao
encontro do mesmo, buscando a mudança que deve primeiramente
surgi internamente em cada um de nós, como transeunte ou
condutor.
Apesar da queda nos números de óbitos no trânsito em 2013
em comparação a 2012, isso ainda segundo dados do Ministério da
saúde, pois em 2013 tivemos 40,5 mil mortes, em 2012 foram 44,8
mil vítimas fatais, queda de 9,7%. Mas nessa “guerra” diária em nas
vias do país estamos perdendo algumas batalhas, é o caso dos
números de internações de vítimas de acidentes que aumentou em
16,9% comparado a 2012, outra grande perda diz respeito às nossas
crianças, pois por ano cerca de 15 mil são internadas vítimas de acidentes, sendo que ao menos 5 crianças são vítimas fatais todos os
dias no Brasil, assim a preocupação só aumenta, pois o cuidado, a
atenção deve ser redobrada para esse corpo social que é bem
indefeso. Não devemos perder nosso futuro de forma desmedida para
a violência no trânsito.
Alguns estados já atentaram para a problemática do trânsito,
foi o caso do Rio de Janeiro que reduziu as mortes no trânsito em
44%, Rondônia com -19%, Acre -18%, Bahia -15%, Paraná -13% e
Santa Catarina -12%. O Amapá vinha reduzindo esses números
também, isso a partir de 2011 até 2013, mas infelizmente em 2014
até o dia 25 de dezembro, segundo o repórter policial João Bolero
Neto, já temos 121 óbitos no trânsito amapaense, em 2013 nesse
mesmo período foram 113 vítimas fatais. A real intenção em mudar o
caos no trânsito brasileiro deve ser uma constante nas ações
daqueles que estão a frente dos Órgãos e Instituições responsáveis
pelo trânsito no Brasil, não se deve agir através de uma política de
trânsito do faz de conta, as ações devem ser efetivas e que objetivem
a melhoria de fato, buscando humanizar as relações nesse espaço de
uso comum, reduzir os acidentes e mortes também.
Como resposta ao sugerido no título, podemos sim fazer um
trânsito novo em 2015, basta nos percebermos como corresponsáveis
pela violência hoje instaurada nas vias brasileiras, basta atentarmos
que o outro tem o mesmo direito que nós em usar o trânsito, sendo
pedestre ou não, pois em condições seguras o trânsito é um direito
de todos, isso é algo expresso na Lei 9.503/97. Devemos cobrar bem
mais do poder público, mas devemos participar efetivamente e
contribuirmos de maneira positiva com o intuito de construir algo
novo, melhor e mais seguro. São necessárias também por parte das
autoridades do trânsito, políticas públicas efetivas, de continuidade e
constantes que objetivem humanizar e garantir a segurança viária no
país. O antropólogo Roberto DaMatta entre tantas questões
relevantes que pontua acerca do trânsito brasileiro, a uma em que diz
que os culpados pelos problemas em nossas vias são os outros,
nunca a gente, isso é algo que requer uma reflexão profunda sobre
tal proposição. Pois como somos vítimas ou causadores dos acidentes
nas vias brasileiras, não há como nos eximirmos de culpa ou
omissão, mesmo que mínima, quanto ao que vemos hoje acontecer
no trânsito do Brasil. Assim, partindo desse pressuposto entendemos
que a mudança no trânsito depende de cada um de nós, pois se
queremos algo bom, melhor de se conviver, devemos ir ao encontro disso, ou seja, se queremos um trânsito mais seguro e humanizado,
devemos construí-lo a cada instante.
Feliz 2015 e que venham as boas novas!
* Bacharelado e Licenciatura Plena em História (UNIFAP 2001);
Policial Militar (Aluno Oficial); Ex-Diretor-Presidente do Detran/AP –
e-mail: ajoaogomes2@gmail.com
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