Quando você vai ao cardiologista ou quando pretende começar a praticar exercícios, é solicitado o tal do Teste Ergométrico. Mas o que é este teste e qual a sua finalidade?
O que é?
O Teste Ergométrico tem por objetivo submeter o paciente a um estresse físico programado e personalizado, com finalidade de avaliar a resposta clínica, hemodinâmica, eletrocardiográfica e metabólica ao esforço.
Pode ser realizado na esteira, bicicleta (cicloergômetro) ou até mesmo na água (menos comum, mais aplicado em atletas de modalidades aquáticas).
Existe também o Teste Ergoespirométrico que, além de ter as mesmas características do convencional, avalia também a aptidão respiratória através de uma máscara com sensores de variáveis ventilatórias.
Como é?
O teste sempre é realizado por um médico especializado. Primeiramente realiza-se uma anamnese clínica, registra-se dados antropométricos, antecedentes cardiovasculares, fatores de risco pessoais e familiares, bem como o uso de medicamentos. São colocados eletrodos em locais específicos do corpo, para monitoramento do coração através do eletrocardiograma. Assim, a frequência cardíaca também é observada e a pressão arterial, na maioria das vezes, é aferida manualmente pelo médico.
Protocolos utilizados:
Rampa – Utilizam pequenos incrementos na carga a cada estágio (1min.), permitindo uma mensuração mais acurada da capacidade funcional. Duração ótima do teste: 8 a 12 minutos.
Escalonado (Bruce e Ellestad) – Protocolos mais intensos que podem ser utilizados em indivíduos fisicamente ativos e/ou em jovens aparentemente saudáveis. O incremento de carga, em geral, ocorre a cada 2 ou 3 minutos.
Naughton e Balke – Mais utilizados quando o indivíduo em teste apresenta limitações etárias e/ou funcionais. São protocolos com incrementos menos intensos, geralmente aplicados em idosos, sedentários, portadores de ICC (Insuficiência Cardíaca) compensada, bem como pacientes em evolução recente de IAM (Infarto Agudo do Miorcárdio).
Por quê?
Essa avaliação possibilita ao médico:
- Detecção de isquemia miocárdica (falta de sangue no músculo do coração); Detecção de arritmias cardíacas (quando o coração bate sem um ritmo padrão);
- Detecção de distúrbios hemodinâmicos esforço-induzidos;
- Avaliação da capacidade funcional;
- Avaliação diagnóstica e prognóstica das doenças cardiovasculares;
- Avaliação objetiva dos resultados de intervenções terapêuticas;
- Demonstração ao paciente e familiares de suas reais condições físicas e perícia médica.
Para o profissional de Educação Física, possibilita a prescrição de exercícios minuciosa. É neste teste que, realizado corretamente e de modo eficaz, fornece informações sobra a zona de intensidade de treinamento ideal de cada indivíduo. Dados como frequência cardíada de repouso e máxima, VO2* máximo, variação da pressão arterial são essenciais para começar um programa de atividade física.
*VO2 máximo = Volume máximo de oxigênio captado dos pulmões e distribuídos aos músculos e outros tecidos do corpo através do sistema cardiovascular.
Para o Teste Ergométrico ser válido para prescrição de exercício:
- Deve durar entre 8 e 12 minutos. Se você conseguir permanecer acima deste tempo, ainda é válido. Mas pode significar que houve equívoco no protocolo aplicado com possibilidade de repetição do teste;
- O tempo de recuperação (pós esforço) deve ser de pelo menos 6 minutos. É possível haver alterações no seu eletrocardiograma durante este tempo;
- Caso você precise repetir o teste por falha técnica ou algum outro motivo, faça-o ao menos após 48h. Neste teste, você expõe o seu corpo a um esforço submáximo à máximo. É necessário ter este tempo de intervalo entre testes para haver uma boa recuperação e não afetar o próximo teste.
Se o teste não for válido e não seguir ao menos estes quesitos mínimos, é complicado realizar uma prescrição fidedigna. Pois resultados de um teste errôneo podem subestimar ou superestimar dados. Desta forma, se uma pessoa tem objetivo de emagrecer, por exemplo, ela pode não ter resultados como esperava por não estar atingindo níveis consideráveis nos treinos. Nestes casos, é necessário que o indivíduo repita o teste.
Existem muitos médicos que aplicam um protocolo equivocado, provavelmente para que o teste termine mais rápido e ele atenda mais clientes. É difícil acreditar que isso possa acontecer, mas acontece (e muito mais do que imaginamos)!!
Fique atento!
Obrigo-me a contar a vocês um episódio pessoal. Estava na aula sobre teste ergométrico, quando o professor de maneira aleatória e imprevisível analisou testes de pessoas diferentes, todos realizados em locais e por profissionais distintos. Um deles, o indivíduo permaneceu 2:30 minutos na esteira. O outro, ficou 5:11 minutos correndo e recuperou 3 minutos. Já o terceiro, a recuperação foi de 1 minuto.
Recebi o teste de um de nossos alunos, o qual ele permaneceu 5:51 minutos (com incremento de carga irregular, sem nenhum padrão) e recuperou 3:03 minutos. Levei este teste a um cardiologista de confiança e nem ele soube dizer que protocolo foi este aplicado (ou talvez inventado) pela médica ao nosso aluno.
A sorte é que ele é jovem, ativo, não apresenta risco de doença coronariana e, até então, não foi diagnosticada nenhuma doença cardiovascular (mas com um teste desse, quem garante?).
No primeiro caso, a pessoa permaneceu apenas 2:30 minutos, não porque era sedentária ou “fraca”. Mas sim porque foi aplicado um protocolo com carga muito intensa para as características da mesma.
Imaginem um adulto de meia idade que pratica caminhada numa intensidade moderada, três vezes na semana, por 30 minutos, por exemplo. Fazendo um teste numa velocidade e carga para um atleta de 20 anos, certamente não irá aguentar. E o pior: corre risco do coitado ter um “pirepaque”, como popularmente dizemos. A pessoa faz o teste de esforço máximo para descobrir se tem alguma doença cardíaca e acaba descobrindo na prática, por conta de um erro médico! Felizmente não aconteceu com este indivíduo…
Esses erros acontecem e são mais comum do que pensamos. Só que como não temos a informação, dizemos “Amém” a tudo que o médico coloca no papel. O médico faz e, como ele estuda tanto para ter este título, respeitamos tudo o que diz sem questionar nada.
Portanto fique atento se você fez recentemente ou irá realizar um Teste Ergométrico. Isto não quer dizer que agora, com um pouco de informação, vamos contrariar os médicos. Há muitos médicos bom por aí. Mas também há muitos que querem rotatividade de “clientes” e o seu dinheiro.
Questione seu médico sobre os procedimentos que serão realizados com você. Procure saber o por quê de tudo. Um bom médico sabe o que faz e certamente saberá também responder seus questionamentos de forma ética e com fundamentos.
Fonte: II Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia Sobre Teste Ergométrico. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Vol. 78, 2002