Réquiem para um sonho


– Oi, meu nome é Ezequiel e sou viciado há algum tempo.
Se a droga é boa, a pena é válida. Calma aí gente, isso é uma metáfora! Eu estou falando é da obra prima do diretor Darren Aronofsky, Réquiem para um sonho, que nenhum cinéfilo que se preze pode deixar de assistir. Não escolhi aquela metáfora por acaso, pois o filme trata desse tema que é tão difícil de ser trabalhado, mas que Aronofsky conseguiu fazer, como já disse, com primazia.
Assim como o efeito que as drogas causam sobre seus usuários, aos poucos vamos viciando no longa. Daí você vai querendo mais, mais, mais e o filme dá conta do recado até o final. Gente, essa droga de filme é da boa! E eu asseguro a vocês, que quando ela acaba você se dá por satisfeito. Portanto, essa droga aqui eu recomendo. Já àquela tratada no filme… Jamais. O longa narra a história de Sara Goldfarb (Ellen Burstyn que tem a melhor atuação, inclusive indicada ao Oscar) que é mãe de Harry, namorado de Marion e amigo de Marlon. Esse é o quarteto principal do filme que têm o vício às drogas em comum, mas motivos diferentes que os levaram a isso.
A pobre Sra. Goldfarb só queria a atenção de seu filho, principalmente, e das pessoas que a cercavam. Já possuía um vício: televisão. Quando recebe uma suposta proposta de aparecer em seu programa favorito, busca métodos rápidos para emagrecer para entrar em seu vestido vermelho favorito: tomando anfetamina. Mas o que dá mais raiva é que foi receita de um “médico”. Já Harry e companhia, embarcam nesse mundo visando um método de ganhar muita grana – mas todos sabem que o pior erro de um traficante é ser, também, um viciado.
E é nesse contexto que Aronofsky constrói um filme muito forte e condizente com a realidade, sem sensacionalismos. Como havia citado no post anterior, o longa é cheio de cortes brusco e movimentos de câmera que nos deixa ainda mais ligadões; principalmente quando encena o momento da ingestão de drogas. Ou seja, isso é linguagem poética e metalinguística fundidas num só ato. O que só comprova que o roteiro e a direção são bons demais. Com finais muito tristes e pesados, o filme ratifica seu compromisso com a verossimilhança e, consequentemente, com a beleza e o papel de formador de opinião que somente o cinema-arte pode proporcionar.
Para quem ainda não teve a curiosidade de pesquisar, réquiem é um hino fúnebre, uma prece pelos mortos. Não obstante, o título, pois, faz jus ao conteúdo do filme e, resumida e retoricamente, vou dizer o porquê. Aronofsky, nesse longa, pega pesado de novo e compõe o réquiem mais psicodélico que já vi aos mortos de fato, e aos que, ainda vivos, morrem aos poucos quando se entregam mais e mais às drogas. Assistir a Réquiem para um sonho é tomar um coquetel de realismo e crueza sem ter medo de uma overdose cinematográfica das bravas.

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