Quando criança tinha vontade de ser militar, via um policial e admirava sua postura. Essa mesma vontade foi desaparecendo com a maturidade que fazia entender que tal profissão esta a margem da sociedade. Mas por opção de emprego fui envolvido pela situação econômica, tendo que presta o concurso prá soldado, tornando-me assim parte da corporação no escalão mais baixo. Esta carreira que mais parece uma lenta caminhada, promoções na PMPI para os Praças é coisa rara e concurso só agora veio acontecer com freqüência nesses últimos anos com vagas mínimas, deveria ser maravilhosa e digna de orgulho, mas infelizmente sentimos outros sintomas, vergonha em alguns momentos.
A vergonha de ser o que se é, soldado, tem sua origem desde o tratamento que recebemos por nossos comandantes no serviço diário nos quartéis e repartições onde trabalhamos até os locais diversos onde andamos fardados. O que era prá ser orgulho é mais um sentimento de ser inferior, esse sentimento de inferioridade, infelizmente é passado pra gente desde o primeiro contato nos cursos de formação até quando já formados exercemos nossa profissão de guardião da sociedade. As disciplinas que existem nos cursos de formação para nos motivar e enaltecer nosso ser são ministradas sem ânimo e não conseguem ultrapassar a simples faixa da falácia teórica. Poucos instrutores têm a intenção de melhorar e contribuir para a auto-estima dos soldados. Muitos desses se preocupam somente em perpetuar o sistema e ganhar horas aulas nos cursos de formação, lamentavelmente.
Lamentavelmente, também, não somos respeitados e acredito que o respeito ao profissional seria a maior contribuição que poderíamos receber. Salário não surtirá efeito se não formos respeitados por nós mesmos e nossos comandantes. Se um ser que se chama comandante de homens que ocupam função de soldados, a maioria na polícia militar, se acha no direito de abusar e não respeitar ou pelo menos cumprir seu dever sem agir com desrespeito para com o subordinado é claro e evidente que não estamos preparados para ser respeitados pela sociedade. Se nem mesmo os pares se respeitam como os outros vão respeita essa classe??????.São coisas simples, parece insignificante, como a questão da educação e respeito ao próximo que faz uma enorme diferença. Ser tratado como criança e dessa forma como irresponsável faz com que o comportamento seja igual. Precisamos de dignidade, respeito da forma mais simples que existe.
Se o policial trabalha 24 horas e folga 48 é claro que seu serviço é improdutivo. O casaco físico sufoca o corpo e faz com que o serviço seja tirado, concluído, simplesmente por não haver outro meio. Infelizmente, nos acostumamos a sofrer e não conseguirmos vislumbrar algo melhor. Olhamos para o passado e observamos melhorias, mas infelizmente acreditamos que já está bom e que é absurdo mais melhorias. Como não evoluir se tudo que não evolui ou se adapta as mudanças se extingue. As mudanças que temos são todas retardatárias as que se tem em outros órgãos públicos, principalmente, vivemos de migalhas, dadas para nos acalmar e dessa forma não haver uma revolta. Mais vejo que revolta só se dá na PM nos alojamentos, internamente em cada policial. Nós temos medo de tudo. Aqueles mais corajosos não lutam por direitos, mas sim por favores, concessões.
Somos soldados aos moldes da guerra, pois não temos vida externa ao meio militar e sim amigos de farda. Isso acontece por não ter, o policial, tempo de freqüentar outros ambientes. Onde ele poderá ter contato com outras pessoas, outras idéias, outras formas de ver e entender o mundo. Esse homem Vive um dia no serviço (cadeia), quando saí de lá chega cansado em casa, no outro dia já está preparando-se para voltar ao serviço. Triste fim de um homem que vive em função da farda e não é respeitado como deve nem pelos pares nem por aqueles a quem serve, mas infelizmente foi assim que fez seu juramento. Com o risco da própria vida e vida aqui não é só no sentido de ser tirada pelo suporto agressor ou inimigo como entende o exército e sim no sentido de não poder viver com dignidade e respeito, morrer pelo serviço. É por isso que me inquieto internamente como já é praxe na PM, infelizmente, pois deveríamos ter o respeito pelo menos de nossos amigos, comandant es mais próximos que vão de graduados a oficiais, já que não podemos exigir isso de imediato da sociedade. Lamentavelmente, isso também não pode ser feito dos comandantes, mais acho que isso é questão de respeitar ao amigo que trabalha e vive dia a dia junto no mesmo ambiente. É claro que aqui não falo daqueles, exceção na PMPI, soldados que por ventura dão problema no serviço como faltas e outros. Refiro-me a maioria que cumpre o serviço de policial militar nos feriados e dias santos sem nenhuma alteração.
Por que pregamos o não corporativismo se todas as outras classes, como mostra os meios de comunicação, o são???? Talvez eu seja um hipócrita mesmo, pois eu prego que devemos nos ajudar e assim crescemos juntos e não obstruir o crescimento de nossos companheiros que são explorados pela escala de serviço. Acredito que as pequenas ações mudarão o mundo, os pequenos gestos contribuirão para melhorias futuras. Por que não fazer o que podemos nos locais onde estamos???? Nossos comandantes usam desculpas para não fazer nada e por ser mais cômodo prá eles. Se os comandantes não dão o direito dos soldados lutarem por seus direitos, têm responsabilidades em melhorar e fazer as mudanças para seus comandados, senão, todos, cairemos no mesmo poço. Acho que já caímos agora temos que sair se é que já chegamos ao fundo.
Amigos, um novo luar se apresenta como uma nova forma de nos aprisionar em falsas ilusões. Viiivaaa PEC 300.
Sou o Marcelo Cardoso, soldado da Policial Militar do Piauí.
*TEXTO ENVIADO PARA O PAPO DE PM , ENVIE TAMBÉM O SEU TEXTO QUE IREMOS PUBLICAR.
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