> *Em um momento inspirado, o autor do texto desabafou em uma comunidade
> de
> Direitos Humanos no Orkut sobre o que é ser policial militar (pois
> criticavam os policiais, só para variar). O texto é de uma pessoalidade
> ímpar e paradoxalmente gera uma identificação imediata por qualquer PM.
> Soôu
> (soou) quase como uma oração, por isso se você é policial militar leia
> até o
> fim e diga se já não se encontrou em alguma situação citada nestas
> linhas.
> Caso não seja PM, aconselho do mesmo modo a leitura. Talvez assim
> entenda o
> quanto esta profissão é árdua.
> *
>
> *ANTES DE SER POLICIAL CIVIL, EU FUI POLICIAL MILITAR;
>
> ANTES DE SER POLICIAL MILITAR, EU FUI CARTEIRO;
>
> ANTES DE SER CARTEIRO, FUI BOMBEIRO;
>
> ANTES DE SER BOMBEIRO, FUI COBRADOR DE ÔNIBUS;
>
> ANTES DE SER COBRADOR DE ÔNIBUS, FUI FUZILEIRO NAVAL;
>
> E ANTES DE SER FUZILEIRO, FUI PALHAÇO DE CIRCO.
>
> PARALELAMENTE A ESTAS PROFISSÕES, SOU DESENHISTA DE QUADRINHOS E
> PROGRAMADOR
> DE JOGOS PARA WEB, ALÉM DE LECIONAR HISTÓRIA QUANDO ESTAVA NA UFRN.
>
> Como desenhista de quadrinhos, ouço de alguns, SEMPRE, que sou um
> desocupado.
> Como programador de jogos, ouço de alguns, SEMPRE, que sou um nerd
> idiota.
> Como palhaço de circo, ouço de alguns, ATÉ HOJE, que aquilo é vida de
> vagabundo.
> Como fuzileiro naval, ouvi de muitos, que fui um BONECO DO ESTADO.
> Como cobrador de ônibus, ouvi de muitos, que eu era um ladrão, por não
> ter,
> às vezes, moedas de R$ 0,01 e R$ 0,05, para dar de troco.
> Como carteiro, guardo cicatrizes, para o resto de meus dias, de
> mordidas de
> cães e de acidentes de trabalho, como atropelamentos, causados pelos
> ?ZECAS?
> da vida, além de ouvir DE TODAS AS MÃES COM AS QUAIS ME DEPARAVA, que
> eu era
> ?O HOMEM DO SACO? que iria raptar as criancinhas.
> Como bombeiro, NUNCA recebi um ?obrigado?, ao retirar um gatinho de uma
> árvore, nem por mergulhar num esgoto, para salvar uma pessoa que foi
> levada
> por uma enxurrada. Tive que aprender a me ACOSTUMAR com isso, além de
> começar a compreender como a linha da vida é tênue e a matéria se
> desfaz por
> besteira.
> Como POLICIAL MILITAR, enfrentei O MAIOR CHOQUE CULTURAL DE MINHA VIDA,
> ao
> ter de argumentar com todo tipo de pessoas, do mendigo ao magistrado,
> entrar
> em todo tipo de ambiente, do meretrício ao monastério.
> Como POLICIAL MILITAR, fui PARTEIRO, quando não dava tempo de levar as
> grávidas ao hospital, na madrugada;
> Como POLICIAL MILITAR, fui psicólogo, quando um colega discutia com a
> esposa, diante da incompreensão dela, às vezes, com a profissão do
> marido;
> Como POLICIAL MILITAR, fui assistente social, quando tinha de confortar
> A
> MÃE DE ALGUMA VÍTIMA assassinada por não possuir algo de valor que o
> assaltante pudesse levar;
> Como POLICIAL MILITAR, fui borracheiro e mecânico, ao socorrer idosos e
> deficientes com pneus furados;
> Como POLICIAL MILITAR, fui pedreiro, ao participar de mutirões para
> reconstruir casas destruídas por enchentes;
> Como POLICIAL MILITAR, fui paramédico fracassado, AO VER UM COLEGA IR A
> ÓBITO A BORDO DA VIATURA;
> Como POLICIAL MILITAR, fui paramédico realizado, ao retirar uma espinha
> de
> peixe da garganta de uma criança;
> Como POLICIAL MILITAR, fui apedrejado por estudantes da mesma escola na
> qual
> estudei E FUI PROFESSOR, por pessoas do mesmo grêmio do qual participei;
> Como POLICIAL MILITAR, fui obrigado a me tornar gladiador em arenas
> repletas
> de terroristas, que são os membros de torcidas organizadas, em jogos de
> times pelos quais nem torço;
> Como POLICIAL MILITAR, sobrevivi a cinco graves acidentes com viaturas,
> nunca a menos de 120km/h, na ânsia de chegar rápido àquela residência
> onde a
> moça estava sendo estuprada ou na qual um idoso estava sendo espancado;
> Como POLICIAL MILITAR, fui juiz da vara cível, apaziguando ânimos de
> maridos
> e mulheres exaltados, que após a raiva uniam-se novamente e voltavam-se
> contra a POLÍCIA;
> Como POLICIAL MILITAR, fui atropelado numa BLITZ, por um desses
> cidadãos QUE
> POR MEDO DA POLÍCIA, AFUNDOU O PÉ NO ACELERADOR E PASSOU POR CIMA DE
> VÁRIOS
> COLEGAS;
> Como POLICIAL MILITAR, arrisque-me a contrair vários tipos de doenças,
> ao
> banhar-me com o sangue de vítimas às quais não conhecia, mas que tinha
> OBRIGAÇÃO de TENTAR salvar;
> Como POLICIAL MILITAR, arrisquei contaminar toda a minha família com os
> mesmos tipos de doenças, pois ao chegar em casa, minha esposa era a
> primeira
> a me abraçar, nunca se importando com o cheiro acre de sangue alheio,
> nem
> com as manchas que tinha de lavar do uniforme;
> Como POLICIAL MILITAR, fui juiz de pequenas causas, quando EM MINHA
> FOLGA,
> alguns vizinhos me procuravam para resolver SEUS problemas;
> Como POLICIAL MILITAR, fui advogado, separando, na hora da prisão, os
> verdadeiros delinquentes dos ?LARANJAS?, quando poderia tê-los posto no
> mesmo barco;
> Como POLICIAL MILITAR, fui o homem que quase perdeu a razão, ao flagrar
> um
> pai estuprando uma filha, ENQUANTO A MÃE O DEFENDIA;
> Como POLICIAL MILITAR, fui guardião de mortos por horas a fio, sob o
> sol, a
> chuva e a neblina, à espera do RABECÃO, que, já lotado, encontrava
> dificuldade para galgar uma duna mais alta, ou para penetrar numa mata
> mais
> densa;
> Como POLICIAL MILITAR, fiquei revoltado, ao necessitar de um leito para
> minha esposa PARIR, e ao chegar NO HOSPITAL DA POLÍCIA, deparar-me com
> um
> traficante sendo operado por um médico particular;
> Como POLICIAL MILITAR, fui o cara que mudou TODOS os hábitos para
> sempre,
> andando em estado de alerta 25 horas/dia, sempre com um olho no peixe e
> outro no gato, confiando desconfiado.
> Como POLICIAL MILITAR, fui xingado, agredido, discriminado, vaiado,
> humilhado, espancado, rejeitado, incompreendido.
> Na hora do bônus, ESQUECIDO;
> Na hora do ônus, CONVOCADO.
> Tive de tomar, em frações de segundo, decisões que os julgadores, no
> conforto de seus gabinetes, tiveram meses para analisar e julgar.
> E mesmo hoje, calejado, ainda me deparo com coisas que me surpreendem,
> pois
> afinal AINDA sou humano.
> Não queria passar pelo que passei, mas fui VOLUNTÁRIO, ninguém me laçou
> e me
> enfiou dentro de uma farda, né? Observando-se por essa ótica, é fácil
> ser
> dito por quem está ?DE FORA?, que minha opinião NÃO IMPORTA, ou que
> simplesmente, não existe.
> AMO O QUE FAÇO E O FAÇO PORQUE AMO. Tanto que insisto em levar essa
> vida, e
> mesmo estando atualmente em outra esfera do serviço policial, sei que
> terei
> de passar por tudo de novo, a qualquer hora, em qualquer dia e em
> qualquer
> lugar.
> E O FAREI, SEM RECLAMAR, NEM RECUAR.
>
> Porque se o Senhor não guarda a cidade, em vão vigia a sentinela.
>
> Por isso é que fazemos nossa parte:
>
> "VIGILANTES SEMPRE!"
>
> Que Deus abençoe a todos.
> *
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